"Talvez
um dia nós nos encontremos na rua e eu aceite a sua mão
estendida e seu abraço caloroso. Talvez, então, você
me mostre a foto do seu filho e eu comente que ele é lindo.
Talvez, talvez, nos sentemos naquele boteco e possamos rir das nossas
trepadas, e relembremos os velhos-bons-tempos-que-não-voltam-mais.
Talvez eu chore um pouco de saudades daquela época e relembre
o nome de todo mundo da turma, e possamos listar quem criou barriga,
quem tem emprego público, quem come a empregada, quem
embichou. Talvez só as boas recordações me
assaltem. Pode ser que, então, eu já tenha esquecido as
dores, que as mágoas sejam só lembranças e que
seu rosto não me assombre mais. Talvez eu já não
chore mais debaixo do chuveiro. Talvez eu passe a mão pelo seu
rosto e meus olhos sorriam e nós possamos nos despedir
prometendo contato, trocando emails e jurando encontros familiares em
breve.
Talvez, algum dia. Hoje não. Hoje eu quero que
você vá pra puta que o pariu."
Fal
Azevedo
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